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Arte plástica resiste apesar da falta de incentivo público na divulgação do ramo

  • Gabriela Pereira
  • May 7, 2021
  • 6 min read

Updated: May 15, 2021

Com pouco estímulo artístico em cidades como Cabo Frio (RJ) e Campinas (SP), artistas veem nas redes sociais um espaço para expor seus trabalhos


Uma manifestação que inclui o desenho, a pintura, a gravura e muitos outros, a arte plástica é uma das expressões artísticas mais antigos existentes na humanidade. A prática surgiu na pré-história por meio das pinturas rupestres realizadas de maneira primitiva em cavernas. E, a partir disso, o movimento foi se desenvolvendo na medida em que o ser humano também evoluía.


Por mais que essa manifestação tenha surgido de forma simples, ao longo dos milhares de anos a arte plástica foi transformada em um movimento elitista, onde, por décadas, apenas uma parcela pequena da sociedade podia ter acesso. Contudo, com o avanço da tecnologia, o consumo da arte plástica tornou-se cada vez mais acessível, porém pouco incentivada.


Jade Moura é graduanda em Educação Artística na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e conta que desde pequena já sabia que queria trabalhar com arte. Ela lembra com carinho do momento em que descobriu a pintura e o desenho na escola e como o incentivo dos professores e o apoio dos pais foram importantes na sua escolha por se tonar artista. No entanto, ela afirma que, tradando-se sobretudo de artistas locais, a falta de interesse do poder público em expandir a arte plástica é clara. O que, para a pintora, consequência um comportamento desinteressado das pessoas com relação as artes no geral.



Jade passou por diversas técnicas dentro da arte plástica, e possui uma paixão especial pela pintura em aquarela. A artista se inspira em nomes como Frida Kahlo, Salvador Dalí, Iberê Camargo, Claude Monet e Edgar Degas ("Autorretrato". Aquarela A5). Foto: Arquivo Pessoal.



Fabiano Silva, que também é artista plástico, complementa o desabafo de Jade ao afirmar que a defasagem no incentivo artístico é algo que acontece em todo o território nacional. “Na cidade que estou vivendo atualmente, Campinas (SP), o maior contato que as pessoas tem com a arte é quando ocorrem as chamadas “feiras hippies”, onde os artistas de vários gêneros expõem seus trabalhos aos fins de semanas. E devido ao que estamos passando atualmente no mundo todo, isso se torna um pouco mais difícil”, declara o pintor.



Fabiano acredita que a não limitação da arte é uma das maiores formas de democratizá-la (Pintura acrílica sobre tela 90x60cm). Foto: Arquivo Pessoal.



Essa realidade pode ser explicada pelo o que o escritor Walter Benjamin intitula, em seu livro A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica, de valor de culto e valor de exposição. O primeiro, nos primórdios da idade média, presava pela apreciação das artes plásticas de forma religiosa, trazendo a magia e a ideia de algo único que, além de possuir uma áurea singular, não poderia ser copiada, enquanto o segundo, que se assemelha a forma atual do consumo artístico, é voltado para a apreciação, e quando apropriada pelo capitalismo a produção e reprodução da arte é voltada para o mercado e para o lucro.


Sendo assim, criou-se o paradigma atual de que a arte plástica possui valor quando é convertida em capital, e para ser reconhecida deve receber legitimação por autoridades e espaços dedicados à arte, como os museus e galerias. No entanto, para artistas como Átila Jorge Silva, ganhar dinheiro com a arte é resultado do que se faz por amor, por isso não vem em primeiro plano.


O artista plástico, que também é professor de pintura e desenho desde os 19 anos e tem como referências nomes como Rembrandt, Caravaggio, Almeida Junior e Velasquez. Ele explica que de fato seu objetivo é viver do seu trabalho artístico, mas afirma que não “existiu um período de minha vida em que fiz a decisão de viver de arte, pois desde que me lembro ela sempre esteve presente em minhas escolhas. Ganhar dinheiro com ela foi só uma consequência", pontua.



Filho de caricaturista, com onze anos Átila ingressou nas aulas de pintura e aos 19 já era professor ("A recusa de Adão) . Foto: Arquivo Pessoal.



Com a situação atual das manifestações artísticas no país, há quem afirme que o movimento está empobrecendo, mas ainda que esteja de fato carente em questão de incentivo, as artes plásticas vêm se reinventando ao longo do tempo. Átila explica que o que acontece é uma ressignificação do que seria arte na atualidade. “Acredito que faltaria apenas o indivíduo que olha para o todo artístico que o rodeia como algo mundano, começar a enxergar esse todo com algo extraordinário. Até isso acontecer, uma grande obra será para ele só um quadro bonito”, ressalta o artista.


E trazendo esse contexto para a cidade de Cabo Frio, onde Átila também reside, o desenhista defende que no município é possível encontrar sem muita demora grandes pintores regionais. De acordo com ele, apesar de ser uma cidade pequena, Cabo Frio carrega um grande potencial artístico. "Posso dizer que estou empolgado para ver esse potencial eclodir", assume.



A arte plástica no contexto social


Mesmo com a facilidade em consumir qualquer tipo de arte atualmente, a falta de interesse da maioria da população pela arte plástica se dá não somente por conta do não incentivo direto ao consumo desta expressão artística, mas sim por todo contexto social e educacional no qual cada pessoa está inserida.


Para Jade, esses fatores também são extremamente relevantes para o resultado que se tem atualmente quando se fala do interesse popular pela arte plástica. “Falta solucionar problemas sociais, falta sensibilidade, falta incentivo, falta tempo, falta acesso. Para além da questão de pessoas que 'não entendem' o que é arte, existem muitas realidades de pessoas que estão batalhando para ter o básico, o que comer, um teto para viver”, reflete.


E esses fatores são demonstrados como forma de expor essa realidade pelos próprios artistas em suas obras. Segundo Átila, as questões sociais presentes no dia a dia também são expressas em seus trabalhos. Para ele é difícil um artista fugir do seu contexto social, pois geralmente sua obra e sua biografia estão ligados a isso.



A arte plástica no contexto educacional


Desenho, pintura, gravura, escultura, tecelagem. Todas essas manifestações artísticas quando se iniciam nos primórdios do aprendizado humano se tornam mais acessíveis e facilitam o apreço de cada vez mais pessoas pela arte plástica.


Para o pintor Fabiano, o movimento artístico também carece de novos praticantes. Segundo ele, a educação artística é uma das principais e mais importantes formas de democratizar o movimento em todas as suas formas. "Acredito que na escola é o começo. Nas aulas de artes, dando mais liberdade para expor a sua forma de se expressar da maneira de cada indivíduo. Não limitando-as, e sim incentivando-as cada vez mais, como novas ideias, novos projetos", conclui o artista.



As redes sociais como museu


A falta de estímulos para exposições artísticas, acompanhada do cenário atual de pandemia por conta do novo coronavírus, fez com que muitos artistas plásticos vissem nas redes sociais um lugar de fácil acesso para divulgar suas obras. Com isso, aplicativos onde é possível manter uma rede de amigos e seguidores tornaram-se uma espécie de museu virtual.


Fabiano explica que a primeira vez que ele vendeu uma de suas obras foi por intermédio do Facebook e foi naquele momento que ele entendeu que seu trabalho era muito mais do que ele imaginava. Além de expor em suas próprias redes através do Facebook (https://www.facebook.com/profile.php?id=100033517455138) e do Instagram (@tolydesarts), o pintor também participa de grupos onde divulga seu trabalho.


"Postei o trabalho em um grupo no Facebook dos EUA, e algumas pessoas se interessaram. Eu não estava acreditando muito naquilo, mas logo em seguida as pessoas me mandaram mensagem em particular querendo o meu trabalho. Depois que efetuei a venda, descobri que as duas pessoas que estavam interessadas queriam dar de presente de noivado uma para outra", conta o pintor.


Jade explica que, além de divulgar seu trabalho regularmente por meio do Facebook (https://www.facebook.com/JadeMoonchild) e Instagram (@jade.moonchild), ela chega a participar de exposições através das redes sociais em certas ocasiões. A artista afirma que com a ajuda de sua professora, em 2019, ela conseguiu expor prints de algumas de suas obras - à distância - na coletiva ABRIL PRA ARTE em Santo Amaro, em São Paulo. A exposição durou do dia 5 ao dia 30 de abril.


Já Átila conta que também costuma expor sue trabalho exclusivamente nas redes sociais. No Instagram (@atilaj.reis) dedica todo seu perfil a exposição de sua arte. Segundo ele, o cenário pandêmico e a falta de divulgação artística na região são os principais fatores para que isso aconteça. "Hoje, com nossa situação tão sensível em relação à presença em locais públicos, se expor virou algo raro", conclui.


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