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Hábitos sustentáveis e consciência ambiental crescem na Região dos Lagos

  • Gabriela Pereira
  • Jun 6, 2021
  • 6 min read

Consumo consciente e estilo de vida sem desperdícios são apostas para contribuir com o meio ambiente.


Usufruir dos recursos naturais é o que permite a existência humana no planeta. No entanto, a maneira como grande parte da humanidade vem desequilibrando o ambiente ao longo dos anos ao praticar atos como queimadas florestais, desperdícios de elementos naturais, poluição atmosférica e terrestre, tem gerado resultados prejudiciais para o ecossistema.


Embora todas as espécies consumam os recursos naturais, grande parte dessas riquezas voltam para a natureza, mas somente os seres humanos consomem os bens naturais de forma exagerada, fazendo com que haja uma grande produção de lixo responsável por afetar os mais diversas partes do Planeta. Somente em relação à poluição do ar, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma, em uma pesquisa divulgada em maio de 2018, que nove em cada dez pessoas respiram ar com altos níveis de poluentes, o que representa 90% da população mundial.


Quando se fala em preservação ambiental ainda é comum o pensamento de que o tema é limitado ao ativismo que visa a defesa dos animais e da vida florestal. Embora o bem-estar animal e ambiental sejam de fato essenciais para o equilíbrio da vida na Terra, a preservação também pode ser praticada através de pequenos atos do dia a dia.


Em meio a essa realidade, a adoção de hábitos sustentáveis, que incluem utilizar e tratar o meio ambiente e seus elementos de forma consciente sem degradar e comprometer o planeta, vem fazendo parte da vida de cada vez mais pessoas, como é o caso da empreendedora, Ana Carolina Travassos, que vive em Cabo Frio e administra sua loja de bijuterias sempre com foco em atitudes que visam minimizar o impacto ambiental.


“Vários hábitos sustentáveis já foram incorporados à minha rotina de vida, como separar o lixo, usar ecobags, recusar sacolas plásticas, recusar muitas embalagens, comprar em brechós, etc. No meu trabalho com a Bugigangas, estou sempre tentando incorporar atitudes que não agridam o meio ambiente. Usamos embalagens de papel, algumas também são reutilizadas (folhas de livro), e estamos iniciando a logística reversa na empresa”, detalha a empresária.


Uma área da logística que tem como objetivo receber de volta o produto vendido que já foi usado e irá ser descartado, a Logística Reversa visa o reaproveitamento ou descarte correto de materiais, buscando a preservação ambiental.



Os produtos de Ana Carolina são produzidos levando em consideração a qualidade e a durabilidade das peças, para que não se tornem sucatas em pouco tempo. Imagem: Reprodução/Instagram



Além de incentivar a redução e a reflexão em relação ao consumo, Ana Carolina também implementa em sua empresa o hábito de reutilizar produtos retornados por meio da Logística Reversa, dando um novo e melhor propósito para o material, o que é conhecido com upcycle.


"Nós estamos nos responsabilizando em coletar esses materiais do nosso nicho de bijuterias (não somente o que produzirmos), triar esse material, reutilizar no upcycle ou distribuir em ONGs e descartar o que não tiver condições de forma segura para o meio ambiente", explica.



Ana Carolina também costuma utilizar produtos sustentáveis e incentiva o uso desses materiais ao postar imagens e textos sobre consumo consciente na rede social da sua loja. Imagem: Reprodução/ Instagram.



Gabrielle Paiva também é empresária e começou a mudar seus hábitos de vida pensando no benefício que a mudança de atitude traz para o meio ambiente. Gabrielle explica que as propagandas voltadas para o incentivo de práticas que ajudem a preservar o ambiente foram o que impulsionaram a decisão dela de mudar.


"Eu fui ao longo do tempo inserindo coisas na minha rotina e abrindo o olhar para coisas que antes eu não fazia. Então, eu tento separar o lixo que eu acho que vai ser aproveitado, porque aqui na minha região não tem coleta seletiva, mas eu sei que tem pessoas que recolhem o papelão então eu deixo ele separado... eu fui trazendo hábitos que eu achava que seriam importantes e que seriam possíveis também, porque nem tudo é possível diante do que a gente tem", salientou Gabrielle.


Essas atitudes consistem nos ideais de sustentabilidade, um termo estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) com a finalidade de desenvolver a longo prazo ações que visem o desenvolvimento econômico aliado ao não esgotamento dos recursos naturais da Terra, ao respeito ao meio ambiente, ao fim do desperdício e ao fim da poluição.


Nesse sentido, cada gesto que tenha por objetivo proteger o meio ambiente é importante. Flávia Targa é doutora em ciências ambientais e comanda um projeto que tem o intuito de coletar lixo disseminado na Lagoa de Araruama, espaço que abrange as áreas de laguna das cidades da Região dos Lagos. A ambientalista explica que diversos tipos de plásticos são encontrados durante a coleta realizada pelo mutirão, e destaca a importância da adoção de hábitos sustentáveis.


"A gestão correta dos resíduos sólidos é uma das chaves para a preservação da natureza, mas precisamos pensar sempre em consumo. Reduzir o consumo é primordial para minimizarmos a geração de resíduos", afirma Flávia.


O estudante de medicina, Enzo Fonseca, conta que há cerca de três anos busca viver e consumir de forma que não agrida o meio ambiente. Ele afirma que em relação à vestimenta sua preferência é reutilizar, então já é comum em sua rotina fazer compras em bazares e receber peças de roupas de familiares. E no que diz respeito a outros produtos, o estudante explica que sua preferência é por lugares e marcas com praticas sustentáveis.


"Ao saber que uma marca é engajada nas questões ambientais e se preocupa da mesma forma com a qualidade de seus produtos e com um preço ainda assim, acessível, não penso duas vezes em dar prioridade para comprar com ela, principalmente quando vejo embalagens biodegradáveis", aponta Enzo.


Gabrielle assemelha suas atitude de consumo às de Enzo ao contar que junta o útil ao agradável, pois segundo a empresária, comprar em brechós é uma de suas paixões e fazer isso sabendo que será benéfico para o planeta é ainda mais satisfatório.


Reciclar, reutilizar, reduzir e repensar são atitudes que devem se tornar comuns entre a população. Conhecidos como os 4R's que regem alguns pilares da sustentabilidade, o reciclar tem como objetivo a transformação de um determinado produto já utilizado em um novo objeto, o reutilizar consiste no reaproveitamento de materiais existentes, o reduzir visa minimizar o consumo e o repensar busca reavaliar as atitudes, focando nas decisões de consumo em relação ao meio ambiente.


No que diz respeito aos resíduos têxteis, que são os restos de tecidos, grande parte são descartados em lixões, aterros sanitários ou ainda incinerados, o que de todas as formas agride a natureza. Uma pesquisa de 2015, publicada pelo Congresso Nacional de Excelência em Gestão, explica que determinados tecidos podem levar até um século para se decompor.


Com a prática da reutilização, o projeto Bonecas Negras nasceu em Búzios na Baia Formosa, através da união de uma artesã e de uma profissional de turismo com o intuito de aprimorar o trabalho de mulheres artesãs, por meio da produção de bonecas de pano confeccionadas com retalhos de tecidos.


A artesã e administradora do projeto, Luciana Passos, conta que apenas algumas bonecas específicas, como é o caso das bonecas pesqueiras, têm um pequeno pedaço enchido com areia, no mais, todas as bonecas são preenchidas com retalhos. Segundo ela, algumas mulheres já faziam pequenos tapetes e fuxicos de retalhos com o refugo, materiais que seriam descartados, que vem das lojas produtoras de biquínis na região.



Do enchimento interior até às madeixas de cabelo, as bonecas são feitas com retalhos e auxiliam na renda de mulheres do projeto. Imagem: Reprodução/Instagram.



Luciana destaca ainda que o projeto possibilitou à elas entenderem o real significado, a importância e o impacto que a reutilização desses materiais promove para a natureza. "O retalho é um lixo que o lixeiro não leva e alguns produtores colocavam fogo. A gente sabe o dano que isso faz para a natureza e nós no meio do projeto fomos tendo essa consciência e ali a gente entendeu que essa era uma forma de não degradação", ressalta.


Além da criação de bonecas, o desenvolvimento de produtos ecológicos construídos a partir de materiais como bambu e fibras de bananas também são comtemplados pelo projeto Bonecas Negras. Luciana conta que esses objetos, que incluem produções como luminárias e cestos, são feitos pelas pescadoras marisqueiras que fazem parte do grupo.



As produções são comercializadas e auxiliam na renda do grupo. Imagem: Reprodução/Instagram



Embora as atitudes individuais de cada pessoa e o trabalho realizado pelos artesãos sejam importantes para preservar o planeta, Flávia defende que é preciso pensar em políticas públicas que incluam ações organizadas e constantes para uma maior eficácia na defesa do meio ambiente. "O problema dos resíduos é de todos, incluindo o governo. As pequenas ações como artesanato são fantásticas, mas precisam de um alicerce!", enfatiza.


Em contrapartida, o setor que tem a missão de ajudar e promover ações que visem impactos positivos ao meio ambiente, vem tendo problemas envolvendo o ministro do meio ambiente Ricardo Salles, investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) sob acusação de praticar exploração ilegal de madeira. Uma atitude que, segundo o Fundo Mundial Para a Natureza (WWF), provoca impactos de amplo alcance para os ecossistemas, inclusive a fragmentação do habitat das espécies e significativas perdas financeiras. O órgão de proteção ambiental destaca ainda que para essa prática são produzidos documentos falsos e uma extensa rede de corrupção é envolvida no esquema, para garantir o sucesso do negócio ilegal.


Em escala local, Enzo destaca que embora seja perceptível um pequeno grupo da região que se preocupa com a situação ambiental, no geral a população ainda precisa perceber a profundidade dos efeitos gerados por suas ações na natureza.



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