Com vinte anos de história, Casa Scliar preserva patrimônio do artista gaúcho
- Gabriela Pereira
- Apr 8, 2021
- 5 min read
Instituição promove visitação virtual desde 2020

A Casa Ateliê Carlos Scliar foi transformada em museu no ano de 2001. Imagem: Reprodução/Instagram.
Para os amantes dos mais diversos tipos de arte, vir à Cabo Frio ou morar na cidade e nunca ter visitado a Casa Ateliê Carlos Scliar é quase um pecado. Transformada em um museu há cerca de vinte anos, a casa onde viveu um dos mais renomados artistas brasileiros possui um acervo que demostra a multiplicidade artística de Carlos Scliar.
Reconhecido nacional e internacionalmente, o pintor, gravurista, cenógrafo e designer gráfico, nasceu no Rio Grande do Sul em junho de 1920 e se consolidou em Cabo Frio, onde faleceu aos oitenta anos, em 2001.
Ativista pelos direitos sociais, de acordo com o site do pintor, Carlos Scliar participou ativamente do movimento pelo fim da ditadura de Vargas, pela convocação de uma nova Constituinte, anistia de presos políticos e retomada do processo democrático brasileiro, além de realizar conferências sobre a luta antifascista e atuação da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália.
O artista plástico João Luis Alveis, que mora no Rio de Janeiro, conta que ainda não teve a oportunidade de visitar a Casa Scliar. Ele conheceu as obras do artista através de revistas de artes quando ainda era iniciante no ramo e se encantou com o exemplo de amor e dedicação que o pintor tinha pela profissão.
Para João Luis, “o que me inspira nele [Carlos Scliar] é o grande amor que ele tem pela pintura, um artista plástico que trabalhou e criou até uma idade avançada, nunca parou. Espero sinceramente em Deus, também trabalhar com minha arte até morrer”, afirma. A busca constante de Carlos Scliar por novas técnicas de pintura é outro fator que inspira João Luis.

Assim como Carlos Scliar, João Luis sonha em se dedicar a sua arte até o fim de sua vida.
"Paisagem com casa", óleo sobre tela, 40 x 40 cm. Rio de Janeiro 2020. Imagem: Arquivo Pessoal.

Retratando objetos do cotidiano, Carlos Scliar testava diferentes técnicas em suas obras.
"Natureza morta com flores brancas", 1982. Imagem: Reprodução/Instagram.
No mesmo ano da morte de Carlos Scliar a Casa Ateliê foi inaugurada. Contudo, ainda que a instituição tenha um papel importante para a promoção da cultura na região, o local carece de apoio financeiro. A coordenadora da Casa, Cristina Ventura, que também leciona cerâmica na instituição, conta que essa é a principal dificuldade em manter o lugar ativo. Ela explica que, o valor recebido do governo pela lei Aldir Blanc, além de uma parceria com a rede de abastecimento de água da região, tem ajudado.
As parcerias foram uma alternativa encontrada pelo museu: "a gente tem um contrato em que a casa Scliar faz trabalhos educativos junto com as pessoas de responsabilidade social da empresa. Esses trabalhos educativos abrangem tanto os alunos da rede pública de todos os cinco municípios da região e agora, recentemente, um trabalho com as mulheres quilombolas daqui da região ", pontua a ceramista.

Ceramistas quilombolas da Baia Formosa, em Búzios, compõem o projeto "Somos Divas da Luz do Candeeiro". Imagem: Reprodução/Instagram.
Cristina destaca ainda que o objetivo da instituição, além de promover a arte, é também minimizar as desigualdades sociais, por isso a importância de projetos como as oficinas e os trabalhos com as mulheres quilombolas e alunos da rede pública.
Oficina Escola Carlos Scliar
A casa Atelie Carlos Scliar conta normalmente com oficinas de cerâmica, desenho, pintura e ilustração, mas com o período de pandemia, algumas mudanças foram feitas. Atualmente, o único projeto que pode ser realizado no local é o “Somos Divas da Luz do Candeeiro”, que conta com a participação de seis ceramistas quilombolas da Baia Formosa, em Búzios, para a elaboração de objetos que são vendidos para ajudar financeiramente as artistas. Com o período de bandeira roxa em Cabo Frio, as atividades presenciais desse projeto também foram pausadas para conter o avanço do coronavírus.
“A gente equipou a casa delas com o material, então elas estão produzindo em casa, depois a gente vai buscar e vem para cá [Casa Ateliê] para fazer a queima porque o forno é aqui”, explica Cristina sobre as adaptações no processo de produção das ceramistas.
Patrimônio Cultural
Segundo o site oficial do artista, Carlos Scliar já idealizava a transformação de sua casa em um museu desde meados de 1965. Tendo que optar entre Ouro Preto, em Minas Gerais (MG) e Cabo Frio, no Rio de Janeiro (RJ), a precariedade em termos artísticos da região fluminense fez com que o pintor escolhesse Cabo Frio. Após a sua morte com a inauguração do espaço, atividades turísticas, eventos e cursos gratuitos de arte foram oferecidos ao público, que não se limita apenas a população cabofriense.
Tombada pelo Instituto Municipal do Patrimônio Cultural (PMCF) desde 2011, a Casa conta com obras não só de Carlos Scliar, mas também de seus amigos. Para Cristina ao " usar esse acervo a gente está multiplicando não só o nome do Scliar, porque a partir dele a gente pode falar de Gabriel Garcia Marques, Clarice Lispector, Vinícius de Moraes, Nelson Pereira dos Santos... esse convívio deles trás essa potência para essa casa e para esse acervo", aponta.
Visitação à Casa Scliar
Em relação as atividades de visitação na Casa Ateliê Carlos Scliar, a coordenadora destaca que desde o início da pandemia do novo coronavírus tem sido feito um trabalho de reformulação do site carlosscliar.com.br, que agora coloca à disposição do público uma página com mais exposições e interatividade, onde os visitantes podem escolher o horário e o local de visita e os alunos contam com um questionário dentro do site que relaciona a vida e obra de Carlos Scliar com as atividades escolares do dia a dia.
No site, existe um acervo extenso com uma lista dividida que conta com numerosas obras do artista. Clicando no menu Acervo do site, o visitante encontra a aba Obras, que o direciona para as gravuras, álbuns, desenhos, estudos, pinturas em tela; ilustrações, cartazes, capas de discos de vinil, livros, fotografias, catálogos e por fim as publicações em jornais e revistas.
Para quem quer fazer um tour virtual pela Casa, indo no menu Casa Museu no site, o visitante pode escolher se vai para os ambientes, conservação preventiva, sala de cinema, para a visita mediada ou ainda para os projetos educativos.
Com o fim da pandemia, João Luiz afirma que pretende visitar a Casa. O pintor destaca que a cultura é extremamente importante e ressalta a necessidade de investimentos municipais no setor cultural. "É importante que as crianças tenham contato com a cultura desde cedo e, lógico, também incentivar os adultos moradores da cidade e os turistas a visitarem e frequentarem a casa ateliê Carlos Scliar", destaca o artista.
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