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Dança após os 50 é a prova que a arte não vê idade como limitação

  • Júlia Machado
  • Apr 29, 2021
  • 4 min read

Updated: Apr 29, 2021

Mulheres com mais de 50 anos superam desafios com a dança do ventre



Professora, enfermeira e cabeleireira. Três mulheres de profissões diferentes que dividem o amor por uma dança que descobriram depois de adultas. A prática da dança do ventre permite um momento de autocuidado, auxilia no desempenho físico e na socialização das alunas.


A enfermeira Martha Eugênia Fontoura conta que começou a dançar ainda adolescente em uma escola de artes em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, e durante a faculdade fez escola de teatro, mas acabou abandonando a dança e as artes cênicas para se dedicar à enfermagem. Foi apenas aos 40 anos que decidiu conhecer a dança do ventre por indicação das amigas praticantes de yoga.


Atualmente, aos 55 anos, Martha explica a importância que a aula durante a semana exerce na rotina. “É o meu momento! Meu tempo comigo. Isso é libertador, eu pude ver que se eu parasse para olhar só pra mim por 2 horas, meu mundo e as pessoas dentro dele, não iria acabar, entende?”, comenta.



Para Martha, a dança do ventre tem muita relação com a superação de limites. Imagem: Aryadne Hubner.



Melhorar a autoestima, explorar a sensualidade e a vontade de vencer paradigmas foram os motivos que incentivaram a professora Claudia Vianna a ingressar na dança. Ela reconhece que com a prática regular da atividade notou uma melhora na coordenação motora, na flexibilidade e na consciência corporal, além dos benefícios emocionais como o aumento da sensação de bem-estar e as amizades construídas pela dança.



Para Claudia um dos maiores desafios é treinar diariamente para ter mais leveza e controle dos movimentos. Imagem: Arquivo Pessoal.



A psicóloga Juliana Tempone esclarece que a dança “é uma atividade que pode contribuir para a saúde mental, para a prevenção e cura de doenças de espectro biológico e transtornos mentais”, afirma. Ela explica que a dança pode complementar o tratamento de transtornos psicológicos “auxilia na redução de sintomas como depressão e ansiedade, por exemplo”.


Superar desafios a cada aula é o que motiva a cabeleireira e maquiadora Waldirene Santos. Ela conta que enfrentou momentos de tristeza e que a dança ajudou no equilíbrio emocional, “a cada dia que eu chego para uma aula e tenho que voltar para a casa, durante a semana fica sempre uma boa lembrança”. Para ela, aprender a dança do ventre é a realização de um sonho. “Eu sempre tive vontade de fazer, é a dança que deixava meus olhos brilhando”, reconhece.



União dentro e fora dos palcos


Waldirene lembra que sofreu julgamentos quando começou as aulas aos 50 anos, “falavam que dança do ventre é para moças mais jovens. Isso não me fez perder o foco de jeito nenhum, hoje em dia eu quero aprender mais e mais. Nós, mulheres maduras, também sabemos dançar”, argumenta.


Apesar das críticas, as três dançarinas ressaltam a importância do apoio mútuo. Claudia destaca o incentivo que recebe das outras alunas e a relação que desenvolvem durante as aulas: “somos espelhos umas para as outras. Compartilhamos dificuldades, acertos e melhorias”, afirma.


Martha também recebeu críticas, mas decidiu valorizar os aspectos positivos que a dança lhe oferece “Aos 55 anos julgamentos me fazem morrer de rir! Não tenho mais nada para provar para ninguém”, brinca a enfermeira. Ela admite que a união entre as mulheres na dança é frequente, “é espantoso como um grupo de mulheres que dançam têm afinidades e se ajudam entre si, com troca de ideias, de afeto e de sabedoria”. As discordâncias também fazem parte do processo, mas de acordo com Martha são desentendimentos de momento superados rapidamente.



Novos desafios


A psicóloga Juliana Tempone comenta que em alguns casos as mulheres se sentem insegura para começar a atividade por conta da idade, e nessas situações um acompanhamento psicológico pode ajudar. “Algumas pessoas só se entendem no processo de insegurança quando começam a praticar atividades com a dança, que mostram a maturação inerente a qualquer corpo. Identificar que ‘o corpo não está como era antes’ quando feito, leva a um luto”, explica.



Waldirene reconhece que cada aula é um desafio para ela. “Isso é muito importante, faz com que a gente se empenhe e queira aprender cada vez mais”, diz. Imagem: Arquivo Pessoal.



Juliana afirma que “admitir para si essa perda da juventude em alguns casos acaba adoecendo, mas em outros, abre a oportunidade de aproveitar a vida presente e desfrutar da melhor maneira, inclusive dançando”, finaliza a psicóloga.


E é através do ritmo pulsante do derbake (instrumento de percussão tradicional na música árabe) que essas mulheres celebram a vida. A dança esteve presente em momentos importantes da trajetória de Martha, entre as lembranças mais significativas ela pontua quando o teatro municipal de São Pedro da Aldeia ainda estava em construção “passei por ele e pensei: serei a primeira solista de dança do ventre aí dentro! E fui!”. Outro episódio muito significativo foi em 2018, durante o último espetáculo que participou da companhia da qual faz parte. “Eu já desconfiava do câncer de mama, mas dancei como se fosse a última vez… de peito aberto e alma entregue”, lembra.


Martha, que já dança há 15 anos, se formou professora de dança do ventre e revela que vai concretizar seu desejo de montar uma turma para mulheres acima de 40 anos de idade que vivem ou viveram histórias de superação de câncer. “O Arte no Harém [companhia da qual faz parte] é o meu segundo lar. Todas são minhas irmãs (ou estariam mais para filhas) de alma, de amor e de estudo a uma cultura vasta, rica em detalhes históricos e muito bonita como a Oriental”, conclui a dançarina.



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