Movimento vegano: ativismo que começa com a mudança alimentar cresce na Regiao dos lagos
- cadernoculturalcf
- May 22, 2021
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Embora ainda seja recorrente a associação do veganismo a pensamentos errôneos, como a falta de nutrição, o movimento ganha cada vez mais adeptos em Cabo Frio e desmistifica esses pensamentos.
O consumo de carnes e produtos derivados dos animais é uma das praticas mais antigas e comuns já adotadas pela humanidade. Estima-se que a utilização das carnes de origem animal como alimento tenha iniciado há cerca de 1,5 milhão de anos.
Mas na atualidade, um movimento contrário ao abate e consumo de quaisquer alimentos e produtos vindos dos animais vem crescendo cada dia mais. O veganismo ou ativismo vegano, como também pode ser chamado, é uma filosofia que tem por objetivo a abstenção do uso de carnes e outros produtos que venham dos bichos.
Segundo a nutricionista Débora Lima, que atende pacientes na Região do Lagos, a ascensão do movimento vegano é notória na localidade. A nutricionista explica que cada vez mais tem atendido pessoas veganas, pessoas que querem se tornar veganas ou que sentem a necessidade de diminuir o consumo de carnes.
Nathália Martins Oliveira é formada em direito, mas viu no setor alimentício vegano a oportunidade de empreender em Cabo Frio. Ela possui uma loja virtual com foco em alimentação vegana e vegetariana e complementa a afirmação de Débora ao trazer o olhar para a refeição vegana voltada para a inclusão. Segundo a empresária, sua loja atende não somente o público vegano e vegetariano, mas também os clientes que simplesmente gostam da comida vegana, além de suprir as necessidades também de clientes alérgicos e intolerantes a alguns dos alimentos da refeição convencional.

Oferecendo não somente os produtos da sua loja, mas também receitas veganas, Nathália mostra que o ativismo vegano não priva as pessoas dos alimentos comuns do dia a dia. Imagem Reprodução/Instagram.
A nutricionista explica que em se tratar da alimentação, o movimento vegano “traz inúmeras vantagens à saúde, por ter como base alimentos que são facilmente digeridos pelo nosso corpo e por se tratar exclusivamente de vegetais. Além disso, esse tipo de alimentação é considerado como prevenção de algumas doenças como as cardiovasculares, como por exemplo, pressão alta, diabetes, insuficiência respiratória entre muitas outras.” , destaca Débora.
Por ser um tipo de alimentação ainda diferente do comum, no Brasil o veganismo por muito tempo se restringiu, em sua maioria, às pessoas que vivem nas grandes cidades, pela facilidade em encontrar comida adequada à nutrição vegana, mas com o passar do tempo o movimento se expandiu para as pequenas cidades, como é o caso de Cabo Frio.
Nathália explica que a ideia de empreender no setor alimentício vegano em Cabo Frio não veio do nada, a motivação se deu por causa da dificuldade que ela e sua irmã, que fez parte do movimento vegetariano desde a infância e atualmente é vegana também, enfrentavam para conseguir o tipo de alimentação compatível com o ativismo vegano.
Segundo Nathália, o intuito da loja é facilitar a alimentação, proporcionar aos clientes o consumo de produtos que não eram produzidos ou comercializados em Cabo Frio. Ela enfatiza que o propósito da marca é “trazer ao consumidor local o que ele só conseguia encontrar nas grandes cidades”
Embora seja um movimento crescente, adotar o ativismo vegano nem sempre é fácil. Priscilla Sant’anna é vegetariana e tem um histórico de tentativa com o movimento vegano. A cabofrienese já era vegetariana antes de transicionar para o veganismo e conta que o motivo dessa transição se deu porque ela queria tentar fazer mais pelo mundo e pela própria saúde. Mas ela explica que embora todo o processo tenha sido realizado com acompanhamento profissional, a mudança de um movimento para o outro foi muito grande. De acordo com Priscilla, esse foi um dos principais motivos para ela que deixasse o ativismo vegano e retornasse para o vegetarianismo.
A nutricionista explica algumas vertentes dos dois movimentos ao esclarecer a diferença alimentar de cada um. Segundo ela, “O vegetarianismo estrito é aquele que tem a exclusão total de alimentos animal, isso inclui ovos, leites e queijos, por exemplo. Já o veganismo vai além da alimentação, pessoas veganas levam a exclusão de produtos de origem animal para além da comida, se estendendo a vestuário, cosméticos, higiene pessoal, entre outros. Essas pessoas optam por apenas utilizar produtos que não tenha origem animal, como também não sejam testados neles.”
Kelly Aoki não é vegana, mas é uma das idealizadoras do projeto Veg Lagos, que traz a proposta de uma feira vegana para os moradores da Região dos Lagos. O projeto foi fundado em Cabo Frio em 2019 com o intuito de proporcionar informação e conscientizar as pessoas acerca do que é o veganismo. A organizadora destaca em relação ao projeto que “A ideia é promover essa opção de vida e saber que pode ser prazeroso o repensar". E afirma que "o evento é uma proposta vegana feita não só para veganos, é feita para todos".

Segundo Kelly, grande parte das pessoas que participam do evento são curiosos à procura de novas experiências. Imagem: Reprodução/Instagram.
Por mais que a alimentação vegana seja à base de alimentos de baixo custo, que inclui legumes e verduras, em muitos casos os veganos possuem uma alimentação mais cara do que os não veganos, isso porque no que diz respeito as comidas veganas industrializadas, por exemplo, diversos fatores tornam-se preponderantes para o aumento ou diminuição do preço do alimento. Nathália exemplifica esse fato ao contar que em relação a sua loja, onde os produtos comercializados são industrializados, o que eleva o preço dos alimentos é o transporte para a região.
“Nosso maior inimigo é o frete para Cabo Frio. Devido à pouca procura de comerciantes para produtos veganos na região, muitas marcas não entregam por aqui. Por isso, temos que fretar por conta própria o transporte para trazer os produtos, o que acaba deixando-os mais caros", desabafa a comerciante.
Em relação a valor, Priscilla afirma que embora de fato os produtos industrializados sejam mais caros, em comparação a um prato de comida tradicional, a alimentação vegana ainda sai mais em conta. Ela destaca ainda que o fato de a pessoa sair da zona de conforto de sempre comprar a comida vegana pronta pode ser um grande diferencial para o bolso na hora de se alimentar, pois é possível produzir a mesma comida industrializada de forma caseira.
“o industrializado vegano, como por exemplo um pacote de "salgadinho" de couve, eu posso fazer em casa com o mesmo molho de couve e manteiga que eu compro na feira ou no mercado e só colocar no forno. Acredite, é a mesma coisa", exemplifica Priscilla.
Para os leigos, o termo alimentação vegana já vem associado a uma dieta rígida somente a base de plantas, verduras, legumes e sucos verdes. E ainda ao fato de pessoas que aderiram ao movimento vegano não serem saldáveis por não consumirem os nutrientes encontrados na carne. Porém, de acordo com a nutricionista, esses pensamentos são errôneos. Débora explica que além do movimento vegano poder ser adotado por pessoas de qualquer idade, as necessidades proteicas para todas as idades são facilmente supridas através das leguminosas, que são todos os tipos de feijões, grão de bico, ervilha, lentilha e soja e das oleaginosas, que são as castanhas, nozes e amêndoas.
No que diz respeito a vitamina B12, que é uma proteína encontrada somente na carne animal, Débora afirma que os vegetarianos e veganos necessariamente vão precisar suplementá-la em algum momento. Mas no que diz respeito ao ferro e o cálcio os veganos conseguem facilmente supri-los mantendo sua refeição habitual.
Ativismo vegano além da alimentação
Quando se fala em veganismo a tendência primária de grande parte das pessoas é associar o movimento apenas a alimentação. Mas o ativismo vegano vai além das comidas e perpassa a linha da alimentação.
Kelly, além de proporcionar uma diversidade gastronômica na feira vegana, também incentiva por meio do Instagram do projeto o interesse das pessoas em conhecer e utilizar as roupas e principalmente os cosméticos veganos, ou seja, que não faz o uso nem dos derivados, nem de testes em animais. “Hoje a tecnologia já nos permite consumir tudo de origem vegetal. Sem testar e sem usar os animais para nos vestir, para nos alimentar e para nos cuidar", comenta.

As propostas veganas vão além da alimentação. Na feira vegana cosmeticos, produtos para a casa, informação e conscientização são algumas das ofertas. Foto: reprodução Instagram.
A organizadora explica ainda que essa evolução da construção da vestimenta e dos cosméticos livres de agressão animal são contribuintes para o crescimento do veganismo.
E em relação especificamente a Cabo Frio e Região, a empresária Nathália afirma que o movimento só tende a crescer.
“Torcemos para que mais pessoas se interessem pelo assunto, que mais pessoas pensem em empreender na área e o mais importante de tudo, que mais pessoas pensem em como suas ações individuais influem no coletivo e no quão importante é o meio ambiente equilibrado para a nossa qualidade de vida e das futuras gerações”, comenta.
Evento Veg Lagos
Com o surgimento da covid-19, os eventos do Veg Lagos, assim como muitos projetos que eram realizados de forma presencial, foram adaptados para o formato virtual, mas de acordo com a organização do projeto, em dias sem pandemia o evento funcionava mensalmente, sempre no primeiro domingo do mês e reunindo vários profissionais da Região, que ofereciam produtos e serviços com propostas ligadas ao bem-estar e no repensar os habtos de alimentação e consumo no geral.
Segundo Kelly, ainda em 2021 o Veg Lagos irá promover a segunda edição da Semana Veg, que vai funcionar de forma vitual através do Instagram . O evento é gratuito e vai ocorrer nos dias 14 a 18 de junho e entre as programações serão oferecidos yôga, ciclo de palestras e oficinas veganas.
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