Pioneiro do romance brasileiro, Teixeira e Sousa tem um legado que vai além da literatura
- Gabriela Pereira
- Mar 25, 2021
- 3 min read
Updated: Mar 28, 2021
Muito à frente do seu tempo, o artista abordou em sua obra a causa racial e os direitos humanos
Romancista, poeta, roteirista, músico, jornalista e empreendedor. Teixeira e Sousa foi único, mas com uma faceta múltipla. O artista, pioneiro do gênero romance no Brasil, batizado de Antônio Gonçalves Teixeira e Sousa chegou ao mundo em 28 de março de 1812, nasceu em Cabo Frio e faleceu 49 anos depois em 1° de dezembro de 1862 quando já morava no Rio de Janeiro.

Responsável pelo primeiro romance brasileiro, Teixeira e Sousa abriu caminho para os escritores da segunda geração do Romantismo. Arte: Júlia Machado.
A primeira obra de Teixeira e Sousa que lhe rendeu o título de pai do romance brasileiro, nomeada de “O filho do Pescador”, é datada de 1843. A pesquisadora da Academia Cabofriense de Letras, Rose Fernandes, que por 10 anos estudou e avaliou a trajetória do autor, publicou em 2018 uma biografia do artista. Ela conta que muitos escritores se reuniram para criar um romance genuinamente brasileiro, mas depois de muitos estudos desenvolvidos pelos críticos da época, a oportunidade foi concedida a Teixeira e Sousa.
“Ele foi o primeiro em quase tudo, ou seja, o primeiro em inserir o índio e o negro em seus romances, assim como a música e a preocupação com o meio ambiente. Sua obra é recheada de informações em todas as áreas do conhecimento. Com isso ele abriu caminho para todos que chegaram depois, principalmente para os escritores da segunda geração de românticos”, destaca a pesquisadora.

Rose Fernandes é pesquisadora da Academia Cabofriense de Letras e por 10 anos pesquisou sobre a vida de Teixeira e Sousa. Foto: Cesar Mattos.
Um escritor muito à frente do seu tempo, Teixeira e Sousa era um cidadão negro que se utilizava da literatura também para disseminar seus ideais antirracistas. A Jaqueline Brum é escritora e presidente da Academia de Artes e Letras de Cabo Frio. Ela faz parte de um time de organizadores de um evento em homenagem ao autor, a Semana Teixeira e Souza, e ressalta a importância do resgate dessa característica do escritor para o movimento negro.
"É muita organização e muita reunião para pensar em contemplar todos os grupos culturais, [...] principalmente com ênfase na literatura e também da questão do movimento negro que vem junto. Porque o Teixeira e Sousa ele era um negro cabofriense, então toda essa força vem para somar, para que a gente faça um evento bem bonito contemplando as múltiplas artes." , conta a escritora.

A escritora e presidente da Academia de Letras e Artes de Cabo Frio, Jaqueline Brum, destaca a importância da promoção da vida e obra de Teixeira e Sousa no cenário artístico e cultural de Cabo Frio. Foto: Reprodução/Alacaf.
Rose Fernandes afirma que a preocupação de Teixeira e Sousa com todo tipo de ser humano é um ponto que diferencia o artista de outros escritores de sua época. Segundo ela “Através de sua obra, podemos conhecer um homem com personalidade altruísta que acreditava no valor do ser humano, independente se ele era branco, negro, índio, homem ou mulher, seus personagens eram heróis e vilões pela sua índole”, reconhece a pesquisadora.
SEMANA TEIXEIRA E SOUSA
Prestando homenagem ao artista todos os anos, a Semana Teixeira e Sousa já conta com 30 edições. Este ano, Jaqueline Brum participou do evento como representante da sociedade civil. Ela explica que o objetivo principal da ação é promover a literatura e as diferentes manifestações culturais dando ênfase na vida e obra do literato.
Em eventos anteriores, a Semana Teixeira e Sousa reuniu muitos fãs e admiradores do artista. Fotos: Reprodução/Alacaf.
O festival acontece alguns dias antes do aniversário do escritor e conta com uma programação extensa que oferece mesas redondas, oficinas, exposições e saraus. “A gente consegue reunir vários grupos culturais para falar de cultura e fazer cultura de forma democrática”, explica Jaqueline Brum.
Nas edições anteriores o evento aconteceu de forma presencial, mas dessa vez, por conta da pandemia do novo coronavírus, a 30ª edição da Semana Teixeira e Sousa aconteceu virtualmente, mas Jaqueline afirma que ainda que o ambiente seja novo e o afeto presencial faça falta, a qualidade e o propósito da Semana não se perdem.
A escritora observa que muitos cabofrienses ainda não conhecem Teixeira e Sousa nem sabem da sua naturalidade, e por isso defende a importância da propagação de todo o legado que o artista deixou não só para os moradores de Cabo Frio, mas também para a cultura brasileira.
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